Emprego, inflação e PIB: especialista analisa tendências econômicas para 2023, em Alagoas e no Brasil
18 de janeiro, 2023

A economia alagoana pode ter um desempenho melhor em 2023 em relação ao ano passado e até maior que a média nacional. Já em relação ao mercado de trabalho, a tendência é mais empregos, atividades com maior número de informais e salários mais baixos. 

A avaliação é do economista e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Cícero Péricles de Carvalho, que conversou com o CadaMinuto sobre as perspectivas econômicas - que segundo ele, serão influenciadas também pelo cenário político - para o país e para o estado. 

Lembrando que a economia alagoana está integrada à brasileira, com o desempenho nacional influenciando muito a atividade estadual, Cícero Péricles afirmou que, conforme indicado pelo Banco Central, no Boletim Focus, a economia no país deve crescer em torno de 1%, um número ainda pequeno para as necessidades do país; e que a inflação de 2023 será mais baixa comparada a do ano que passou.  

“É um cenário favorável, mas essas previsões devem ser atualizadas pelos efeitos de mudanças inesperadas no cenário mundial, assim como pelas novidades na gestão macroeconômica do novo governo federal”, explicou. 

A tendência que a economia alagoana tenha um desempenho melhor que 2022 também depende, na avaliação dele, da concretização dos anúncios de investimentos públicos estaduais na ordem de bilhões de reais; dos investimentos privados, também anunciados, principalmente no setor de comércio e serviços; e da produção da agricultura “que atravessa um período de sete anos de chuvas regulares e preços bons”: “Como é o segundo ano da conjuntura pós-pandemia, com o funcionamento pleno das atividades econômicas, o cenário favorece o crescimento”. 

Sobre isso, o economista ressalta que, em 2020, o impacto negativo do lockdown nos setores de serviços e comércio fez o PIB estadual retroceder 4,2% negativos. “Foi o ano mais difícil. Em 2021, com a vacinação em massa e a reabertura parcial da economia, aconteceu um certo desafogo, e o resultado foi um crescimento próximo à taxa nacional de 4,6%. No ano passado, com a reabertura de todas as atividades, mesmo com as dificuldades acumuladas nos anos anteriores, a economia acompanhou o desempenho do PIB nacional, que ficará em torno de 3%. É de se esperar que, em 2023, a economia alagoana siga nesse ritmo de crescimento, podendo alcançar uma taxa maior do que a nacional”. 

Emprego e inflação 

Em relação aos índices de desemprego e a taxa de inflação, Cícero Péricles explica que a taxa de desemprego vem caindo com a retomada das atividades econômicas, tanto no plano nacional como estadual. No começo de 2021, no meio da pandemia, a taxa de desemprego ultrapassava 20%, e 680 mil alagoanos estavam desempregados, desalentados ou trabalhando em tempo parcial, ou seja, mais da metade da força de trabalho estava em situação precária. No final do ano passado, em 2022, esse número tinha caído para 470 mil e a taxa de desemprego estava em 10%, metade do ano anterior.  

“É um processo positivo, mas com problemas. O desemprego continua alto e a informalidade aumentou em mais de 120 mil pessoas que passaram a trabalhar sem contrato ou carteira. Essa é a tendência: mais empregos, atividades com número maior de informais e salários mais baixos”, avalia. 

Por outro lado, o especialista entende que a inflação tende a se estabilizar em um patamar menor aos anos anteriores, por várias razões: os combustíveis tiveram uma trégua pela redução dos impostos estaduais e a redução do barril de petróleo, os produtos industriais importados estão com os preços em queda, com a normalização das cadeias produtivas globais, e os preços dos alimentos, influenciados por um maior abastecimento do mercado interno, também caíram.  

“O DIEESE, Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos, responsável por um levantamento mensal do valor da cesta básica em seis das nove capitais nordestinas registrou, de julho até dezembro, uma série de seis meses de queda regular nos preços dos alimentos. Esta é uma tendência da conjuntura atual”, afirmou Péricles. 

Ele prosseguiu dizendo que o começo desse ano trouxe boas notícias para uma economia pobre como a alagoana, no sentido da renda e consumo, tanto pelo anúncio do aumento do salário mínimo, 2,7% maior que a inflação, capaz de influenciar os pagamentos dos assalariados e previdenciários, como pela garantia do pagamento do Bolsa Família, medidas que impactam a economia estadual pelo volume e pela enorme capilaridade desses recursos: “São medidas boas porque criam renda para o consumo, numa sociedade que possui 80% dos consumidores endividados e 30% inadimplentes”. 

Aumento do ICMS 

A pedido da reportagem, o economista também analisou o impacto, na prática, do aumento da taxa do ICMS em Alagoas, de 17% para 19%, aprovado em dezembro passado. 

“Inicialmente, o impacto mais sentido será nos preços das tarifas de energia elétrica pela elevação da alíquota básica de 17% para 19% do ICMS, que se espalhará para todas as cadeias produtivas, a exemplo da indústria de transformação e construção civil; e dos setores de comércio e serviços, os grandes consumidores de energia elétrica, e, claro, para 1,1 milhão de consumidores residenciais”, explicou. 

Segundo o economista, já o aumento da alíquota das bebidas alcoólicas terá pouco impacto, mesmo passando de 25% para 27% do valor cobrado. “Evidentemente esse reajuste afetará os preços das outras mercadorias, alimentos e serviços, ampliando o processo inflacionário. A medida federal, ao instituir um limite para a cobrança do ICMS nos estados, aprovada em junho do ano passado, reduziu a receita estadual, tornando necessário um aumento da alíquota-base do ICMS para poder repor a perda de arrecadação do tributo no Estado de Alagoas”. 

 Cenário político 

Para Cícero Péricles, o cenário político deve colaborar na condução econômica do estado, uma vez que éimpossível para os gestores locais prescindir dos recursos da União, pela massiva presença federal nas políticas sociais, nos programas de desenvolvimento econômico e na construção de infraestrutura.  

“Este ano temos um governo estadual em sintonia fina e pautas alinhadas com a administração federal. É também uma aliança regional porque foi no Nordeste que o governo eleito conseguiu sua melhor votação, e a presença nordestina nos ministérios é expressiva, inclusive com um ministro alagoano, o senador Renan Filho. Tradicionalmente, a bancada alagoana no Congresso trabalha com essa consciência, construindo uma agenda comum, que exige aproximações e diálogos”. 

O economista concluiu lembrando que, segundo os anúncios do novo governo federal, seus objetivos centrais são o combate à pobreza e o crescimento econômico, “objetivos que se afinam com o plano local do governo estadual que tem demonstrado sua intenção de seguir o modelo desenvolvimentista anterior, com fortes preocupações sociais. É de se esperar um aumento de recursos tanto nas suas políticas sociais, que sempre influenciam a economia, como na área do desenvolvimento e da infraestrutura, geradoras de emprego e renda, com uma presença mais efetiva dos ministérios, das instituições federais como a Codevasf e a Sudene, e da rede financeira federal, composta pelo BNDES, BB, CEF e, principalmente, pelo BNB”.

Fonte: Site Cada Minuto